sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

NÃO FOI FEITA PRÁ MIM...

Sinto-me cada vez mais distante das pessoas, apesar de querer tê-las tão perto de mim. Tenho vivido uma fase de minha vida em que estou muito isolado, solitário, um ermitão. Refém de um sentimento que não consigo compreender. Parece uma falta, um pequeno detalhe que antes já fora grande e hoje faz falta em mim. Não consigo uma comunicabilidade harmónica com o mundo á minha volta, que parece revolto diante de tanto acontecimento absurdo. Não há interlocutores e a inversão de valores faz com que a vida seja um grande mercado onde encontramos de tudo. Minha casa é um labirinto para o meu tédio que não consegue sair. Me perco entre corredores e quartos que não foram construídos só prá mim. Como também não é só prá mim que existe a bela, interessante e imponente estátua do Marquez de Pombal, na praça, em frente ao Banco do Brasil em Lisboa; o frio cortante sob as árvores da Av. da Liberdade que me obriga ao capuz do casaco que comprei no Fórum Montijo; as luzes de Lisboa, a praça dos Restauradores e o Rossio, as putas e drogados que se espalham pelas praças e logradouros. O metrô e suas belas estações subterrâneas com estruturas e tecnologias dignas de primeiro mundo. Estações que, em baixo da terra, mostram a vida intensa que existe acima de nossas cabeças. Painéis electrónicos e néon realçam a arte, a cultura e toda a forma organizada da vida quotidiana que explode na capital lisboeta. O telúrico ao som de um fado, a melodia ousada no show de Ivete Sangalo, no pavilhão, o grito de gol do Benfica, no Estádio da Luz.Sei que nada disso foi feito só prá mim. As estradas que me levam de Salvaterra ao Montijo, á Fátima ou Santarém. Á Lisboa, Alentejo e Algarve. Às praias, montanhas de Sintra, às paisagens mais lindas de Portugal. Nada disso terá sido feito só prá mim.
Mas, o que fazer se você não quis estar aqui?

Série Coletânea

Laços místicos

Nasci em casa e minha madrinha ajudou no parto. Tudo muito original e natural.No mesmo quarto em que nasci, um dia, ainda no berço, uma bola na vidraça fez com que um estilhaço caísse, de ponta, em cima de mim, ferindo-me muito próximo ao esternocleidomastóideo, ou seja, no plexo torácico onde esse musculo é constituído por duas cabeças: a external e a clavicular. O caco de vidro fez sangrar o lado esquerdo de meu peito, á poucos centímetros do coração.Foi só um susto. Talvez para me acostumar logo á não me assustar com tudo. Depois a vida se encarregaria de me ensinar a me assustar e a me surpreender, sem me acostumar com nada.Nasci em Vila Velha, a cidade que eu amo. A primeira cidade á receber um imigrante Português que obtivera o título de donatário da Capitania do Espírito Santo.Fazendo da Prainha o seu cais, Vasco Fernandes Coutinho, o português, deu inicio ás histórias de lutas na resistência dos índios; na petulância dos invasores; na resignação e na conquista pela fé - na catequese e á força - sob uma raça aborígene em vias de extinção. As marcas deixadas em cada pedra da “estrada velha” que leva á capela do Convento de Nossa Sra. da Penha, numa subida íngreme e penosa, podem não ser visíveis, mas estão registradas nas memórias que o tempo não vai apagar. Quem sobe as escadarias sente um misto de alegria e sofrimento, de prazer e de dor. Sente uma força que chama de fé, uma fé que emana amor. É a casa da Mãe, Nsa. Sra. da Penha, a Protetora do povo “Canela Verde”.A locomotiva puxava os vagões de passageiros numa velocidade que não correspondia á ansiedade daqueles que tinham pressa de chegar. Estudantes que retornam à casa; turistas que iam de férias ás praias, tão desejadas do litoral de minha cidade, que se aproximavam para receber o frisson de alguns que ainda não as conheciam e alimentar aos sonhos de outros que se aventuravam.- Ainda falta muito? – Perguntei.- Não. Só mais um bocadinho e já chegamos. - Respondeu Cila, uma ex empregada da família que adotamos, há alguns anos, como irmã.Eu tinha 11 anos, era o terceiro filho homem, dos quatro que havia e o nº seis do total de sete filhos existentes.As paisagens verdes e as montanhas de Minas Gerais não me chamavam a atenção, os veios finos de água em que estavam se transformando o Rio Doce, antes navegável e, agora, duramente explorado pela febre dos garimpeiros que desordenadamente extinguiam uma forma de vida coletiva para satisfazerem as suas ambições e interesses privados. E a bateia todo dia separa uma parte que é arrancada do rio, suas preciosidades submersas. E as máquinas, boiando sob “plataformas”, assustam e afugentam a natureza viva de um ecossistema que servilmente se deixa acabar.Café com pão, manteiga não... Café com pão manteiga não…O trem corria velozmente sob os trilhos e eu ainda não queria chegar.- Quer comer alguma coisa? Perguntou Cila, se ajeitando á poltrona ao ver que o homem, com um carrinho de lanche, se aproximava.- Um refrigerante – Respondi, continuando a olhar fixo pela janela.Ela fechou a revista Cruzeiro a olhar-me sisudamente.- Porque tá assim, parece que não está gostando de ir prá casa de sua avó?- Tô sim. - Respondi para não parecer chato.O homem vestido de calça de nycron azul-marinho e camisa branca de mangas compridas e gravata azul - conforme a calça - e um quépi da mesma cor, que trazia á cabeça, esticou a mão me entregando um copo descartável onde ele havia despejado uma garrafa de refrigerante de 33cl. Depois de receber o dinheiro que a Cila lhe deu, saiu a fazer barulho com sua cesta sob rodinhas que trepidavam sobre o assoalho do vagão de 1ª classe.As placas de sinalização passavam ora em grandes velocidades e ora tão devagar que dava para memorizar nºs que permanecem durante tanto tempo quanto queremos quando estamos mesmo a fim de ficarmos absortos e alheios ao que ocorre a nossa volta.A estação Pedro Nolasco, já estava pequena àquela altura. O volume de passageiros provenientes de Minas Gerais era cada vez maior. E a nossa chegada poderia ser facilmente confundida com turismo, mas eu, mesmo sendo uma criança, sabia que não era bem assim...

PECADO E PERDÃO


Caríssimos irmãos, carentes de Luz.
Hoje posso ver com alegria o quão é importante a existencia de todos voces que dissimulam a verdade; que proclamam a hipocrisia; que como Judas amam a falsidade, traem e conspiram contra o próprio Ser. Sim, porque ninguem consegue ser tão mal sem antes prejudicar a si mesmo.
Em suas maledicencias, nos falsos testemunhos, na aleivosia, na discriminação, nas injurias e na difamação: Hereges de má intenção. Voces conseguem ser a alegria do inferno e o deleite do próprio demônio, enquanto promovem e alimentam a tristeza de Deus.
Que bom que voces existem meus irmãos!
O que seria da Luz se não houvesse as trevas? O que seria da culpa se não existisse o perdão?
O que seria, meus caros, do próprio Cristo, da redenção dos pecados se não fosse os hipócritas, os medíocres fanáticos, a humanidade presente tomando parte em sua Crucificação?
Queridos irmãos, ainda bem que vossos corpos serão consumidos no nada, pois sois todos mortais.
Deem graças, pois, que só vossas almas é que são eternas e á estas ainda resta um periodo de expiação para obter o Perdão Divino.
Que assim seja!