sábado, 20 de dezembro de 2008

BOAS FESTAS E UM FELIZ ANO NOVO... DE NOVO


O menino atravessou a rua em direção a grandiosa placa de néon que lhe chamava a atenção, com um anuncio que lhe produzia uma certa euforia. Um anúncio, no mínimo inusitado, diferente e sem muitas margens para definições. Era um espaço enorme que sustentava o out door, numa imensa parede lateral do edifício, que tinha aproximadamente 20 andares.
A imagem era direta; a mensagem inquiridora, contemplativa, quase lógica e parecia até mesmo não ter nenhuma outra ou oferecia qualquer margem para uma segunda intenção.
O tráfego era intenso na avenida; os carros passavam em alta velocidade, as pessoas se esbarravam umas às outras, procurando dividir o escasso espaço que existia nas calçadas, nessa época de fim de ano.
O menino se espremia meio ao tumulto de pessoas maiores e mais velhas que não davam atenção a sua pressa cega, curiosa e quase fatal, uma vez que, num choque inevitável mas não inesperado, foi violentamente jogado para fora da calçada, quase sendo atropelado pelo ônibus que trafegava na faixa destinada à lotação. Assustado ele percorria apressadamente e em passos largos, a tumultuada calçada da avenida que parecia interminável.
A tarde já estava chegando ao final, as pessoas disputavam quem entraria primeiro nos coletivos que chegavam nos pontos e, mais lotados do que quando paravam, logo saíam. Todos queriam chegar logo em casa naquele dia, para terem tempo e aproveitar, junto á família, aos amigos, ao namorado, enfim, queriam estar preparados para os momentos festivos de confraternização e carinho, promovidos pelo espírito singular do Natal.
E o menino já quase corria na rua, sabia que não podia se demorar, afinal, o imenso mural iluminado já lhe daria a orientação necessária para a decodificação de uma festa que ele ainda não entendia, mas admirava aquela data que lhe enchia de alegria, apesar de saber que naquele dia ele não tinha sequer um abraço, um “feliz Natal”, ou um simples presente que lhe pudesse dizer mais do que aquele imenso cartaz que traduzia uma esperança, muito pequenininha mas que o consolava como um gesto divino do maior Criador.
Ao aproximar-se do prédio gigante que de repente surgira entre toda aquela gente fazendo-o esticar o pescoço fino, inclinando a cabeça a olhar para cima, balbuciando as últimas palavras que havia soletrado sem muita dificuldade. Como se o seu pensamento lhe saísse, inevitavelmente, da boca, o menino completou:
... 5, 4, 3, 2, 1... – é melhor um Ano Novo do que não ter ano nenhum!
E saiu sorridente e parecendo estar muito feliz por saber, através daquele reclame, que o seu Natal e também o Ano Novo, já teriam um endereço; ele já teria uma direção naquela noite e não peregrinaria, como em todas as outras, em busca de um abrigo onde pudesse ficar, comer alguma coisa e dormir. Mesmo que nessa noite ele não tivesse sonho algum para sonhar.